Carpe Diem ou Coram Deo?

Capa Carpem Diem

Em 1989 o mundo conheceu o aclamado filme “Sociedade dos poetas mortos” e, com ele, uma antiga obra do poeta romano Horácio Flaco foi ressuscitada. E hoje, muitos jovens que, talvez nem tenham visto o filme, ou talvez nem saibam quem foi Robin Williams, com certeza conhecem a famosa expressão latina: Carpe Diem.

Colha o dia! ou, aproveite o momento! Muitas pessoas podem achar um lema muito nobre e positivo, digno de estar nos seus status nas redes sociais, certo?

Errado! pelo menos para nós. O termo se popularizou, na antiguidade,  quando o império romano estava em decadência. O sentido básico do termo usado era o de: “Vamos aproveitar tudo hoje por que amanhã pode não sobrar nada! Os bárbaros estão a nossa porta e pode não haver amanhã!” Algo muito semelhante aquilo que Paulo diz em 1 Coríntios “Comamos e bebamos pois amanhã morreremos”. O real sentido dessa expressão é a promoção de uma vida desregrada, anti-deus, promiscua e hedonista, que não leva em conta a perspectiva do eterno: “o real é o que temos agora”, dizem eles, “sendo assim, o que me proíbe de assassinar alguém que eu não gosto hoje? Por que não abusar da minha força contra mulheres e crianças? No final das contas eu estou somente aproveitando o meu dia e fazendo aquilo que eu quero!” E se as minhas palavras não são o suficiente quem sabe as de Horácio sejam:

“Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.

Não perguntes, saber é proibido, o fim que os deuses darão a mim ou a você.”

Mas meu objetivo aqui é ensinar uma nova expressão latina, uma que é digna de se popularizar entre os cristãos e de se colocar nos seus status em redes sociais: Coram Deo.

Ao pé da letra Coram Deo significa “Diante da face de Deus”. E esse é o grande objetivo da vida cristã na terra, essa expressão capta a essência dela, devemos viver diante da face de Deus, sob a autoridade de Deus e para a glória de Deus.

Coram Deo foi um dos grandes pilares da reforma protestante no século XVI, deve-se dizer que a reforma não inventou a expressão, mas ela é um legado que abriu a mente do homem para entender que não existe divisão ou dicotomia entre uma realidade sagrada e uma realidade secular. A Igreja Católica era estritamente dualista em sua forma de pensar. Bem x Mal. Deus x Satanás. Santo x Profano. Sempre duas forças igualmente fortes que lutam entre si. Então estar na presença de Deus era sinônimo de ir ao culto, ou que o serviço que agrada a Deus é ir ao monastério e abraçar o sacerdócio, ser um padre, e dessa forma o trabalho do açougueiro, do sapateiro, do artesão e da mulher do lar eram seculares, secundários e sem valor espiritual.

Mas não, Coram Deo vem nos mostrar que toda a nossa vida se passa diante Deus. Quando trabalhamos, quando comemos, quando bebemos, quando criamos nossos filhos, quando estamos no nosso momento de lazer e quando estamos na igreja. Em outras palavras Coram Deo é a diferença que a verdade da morte e ressurreição de Jesus faz na sua vida na segunda feira de manhã. Essa expressão nos leva a refletir se temos sido durante a semana a pessoa espiritual que aparentamos ser no domingo à noite na igreja. Como disse Abraham Kuyper: “Onde quer que o homem esteja, seja o que for que faça, ou no que aplique a sua mão, na agricultura, no comercio, na indústria, ou sua mente, no mundo da arte, e ciência, ele está, seja onde for, constantemente diante da face de Deus, está empregado no serviço de Deus, deve obedecer estritamente a seu Deus e acima de tudo deve ter como alvo a gloria de Deus.”

Vemos essa mentalidade na primeira carta de Paulo aos Coríntios: “Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam quaisquer outras coisas façam tudo para a glória de Deus.” O seu café da manhã deve ser para a glória de Deus! Deus não está te fazendo uma sugestão aqui do tipo “Se vocês puderem…”, é uma ordem de padrão de vida! A forma como você gasta o seu dinheiro deve glorificar a Deus, a forma como você se comporta no transito deve ser para glorificar a Deus, se Cristo é Senhor da sua vida ele também é senhor da sua família, do seu negócio, do seu trabalho, do seu estudo e das suas relações. O cristão não tem uma “vida secular” por que onde quer que ele esteja Deus estará lá! Você vai estar diante de Deus quando cortar os legumes pro almoço, você vai estar diante de Deus quando assistir uma aula na faculdade, você vai estar diante da face de Deus no seu almoço no restaurante universitário, você vai estar diante da face de Deus quando pegar seu ônibus pra voltar pra casa. Estamos 24 horas, 7 dias por semana vivendo Coram Deo – diante da face de Deus –  e aqui quero chamar a atenção em como estamos nos comportando diante dessa verdade.

Eu não espero que ao final desse texto você simplesmente acene a cabeça concordando comigo, mas, mais importante, que o seu coração possa concordar e que suas mãos, pés, boca e mente as coloquem em prática, caso ainda não o façam fora do templo, pois, afinal “NEle vivemos, nos movemos e existimos.”

E aí? O que vai nortear sua vida a partir de agora? Carpe Diem ou Coram Deo?

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